Inauguramos aqui o novo espaço do blog. Um espaço de bate papo com mestres, admiradores e conhecedores do mundo do SAMBA, NOVE NÃO É DEZ. No nosso primeiro bate papo temos a honra de ler MOACYR LUZ, compositor, cantor, carioca e fervoroso apreciador de botecos. Tivemos a honra desse bate papo atraves do contato que fizemos com Moacyr, através de seu twiiter (@moaluz)
NOVE NÃO É DEZ!
01 – Moacyr, seu disco de estréia ‘Moacyr Luz’, foi lançado em 1988. Nessa época estávamos em uma fase peculiar do rock nacional e com uma grande inserção da musica estrangeira nas rádios. Como você avalia essa trajetória desde então? Como foi o caminho que o samba percorreu?
Uma vez o Nei Lopes me traduziu bem objetivamente. Disse que eu não sou sambista. Sou um compositor. Lembrei também de um show que eu fazia com o mestre João Nogueira. O radialista o apresentou como sambista, e a mim como compositor. Instigado, respondeu: - Ué! Não sou compositor?
Quando lancei esse disco em 1988 eu tinha músicas gravadas pela Leila Pinheiro, Nana Caymmi, Leni Andrade e Elba Ramalho. Meus sambas andavam escondidos. Eu já tinha feito a melodia do Saudades da Guanabara, Rainha Negra, mas nesse disco, nem uma caixa de fósforos como ritmo. As rádios tocavam as piores músicas brasileiras, mas nunca pensei em rádio como motivo pra minha carreira.
02 – Nesses últimos anos o que temos visto é uma reaproximação de grande parte da juventude com o samba. Temos vistos novos valores surgirem, novos grupos, novas interpretações. Você enxerga esse movimento? A que você atribui isso?
Tenho uma tese pessoal: - a re-masterização de LPs para CDs disponibilizou à nova geração o acervo completo de muitos artistas, inclusive, sambistas. O samba vinha costurando uma nova tendência com pequenos redutos na zonal sul, mas com rodas clássicas acontecendo no subúrbio, como a Tia Doca que eu conhecia desde 94...Na mesma época eu freqüentava o Lapazes, na Rua da Lapa. O samba era comandado pelo Monarco. Na Rua da Carioca, quem dava as cartas era o Noca. De repente tudo juntou: - Rua do Lavradio, Arcos da lapa, Bip-Bip. Tudo acontecendo.
03 – Grande discussão hoje é sobre a valorização do que muitos chamam de samba de raiz e a depreciação do que muitos chamam de “pagode”. É notório, porém, que nas periferias dos grandes centros, a juventude entra em contato com o cavaquinho, o tantã e o pandeiro pelo pagode atual e não pelos ditos clássicos do samba. Como você avalia esse desenvolvimento das coisas?
Essa discussão é mais didática, não tenho base pra responder. Infelizmente as oportunidades acabam moldando por um caminho ou outro a sorte de cada um. Alguns começam a estudar música tendo em mãos os melhores instrumentos. Mesmo assim, não surpreende um menino de poucas posses fazer um belo solo num cavaquinho empenado.
04 – Sua paixão pelo Rio de Janeiro é cantada em verso e prosa. Sua paixão pelo carnaval é cantada em verso e prosa. Tanto o Rio quanto o Carnaval tiveram inúmeras mutações desde seus primórdios. Como você caracteriza suas paixões atualmente?
Continuo apaixonado. Gosto de ver a cidade reagir. No caso do carnaval, o que mexe forte comigo são os blocos de rua, gosto dos artesãos das escolas de samba, da hierarquia na agremiação. O cumprimento respeitoso à diretoria, a bateria, os sem-camisa nos botequins, o improviso pra ser feliz. Só de imaginar, arrepia.
05 – Outra paixão que você faz questão de externar são os Botequins, o que inclusive te levou a escrever dois livros sobre o tema. Sua simbologia, sua culinária, suas histórias. Imagina como seria a história do samba sem esse nobre lugar tão admirado por ti?
Meu irmão, não crio esse link samba e botequim. O meu botequim íntimo é freqüentado por embaixador, bicheiro, motorista de ônibus, músico de jazz, cuiqueiro. Fico encantando quando, do nada, o grupo faz um racha e inventa uma churrasqueira com tijolos, pega um latão que faz de panela e sai o tira gosto da tarde: asa de frango, siri, mexilhão na casca, carne de sol caseira, pão com alho, cuzinho de galinha, vale tudo..
06 – Como é saber que interpretes do porte de Maria Bethânia, Gilberto Gil, Rosa Passos e Nana Caymmi gravam suas composições e compartilham suas musicas? Interpretar ou compor?
São emoções diferentes, já gravei 9 discos. Tenho uma lista de 200 músicas gravadas. Põe aí a Beth Carvalho, Leni Andrade, Martinho da Vila, Fafá de Belém, Elba Ramalho, Mestre Marçal, Zeca Pagodinho, Selma Reis, Dorina, Elymar Santos, Luiz Carlos da Vila, Emílio Santiago, Ivan Lins... Compondo, tive a honra de ser parceiro do Nei Lopes, Martinho da Vila, Hermínio Bello de Carvalho, Wilson das Neves, Wilson Moreira, Sereno e meus constantes Paulo Cesar Pinheiro e Aldir Blanc. É um orgulho!
07 – Se Moacyr Luz não ouvisse mais samba, nenhum disco de nenhuma espécie, ouviria o que?
Eu gosto de ouvir jazz, principalmente com músicos antigos, Oscar Peterson, Bill Evans, Wes Montgomery, Chet Backer. Também ouço Brahms, Enio Morricone..
08 – Descreva para nós um dia perfeito no Rio de Janeiro.
Adoro acordar cedo. Meu dia começa forte já pela manhã Acabei de responder essa pergunta à revista Época.. Escolhi sábado:
“Tão importante quanto a natureza em torno da cidade, o nosso Centro é maravilhoso aos sábados, principalmente no trecho final da Rua do Ouvidor, quase na Perimetral. A dica é chegar cedo naquele arredor, conseguir uma mesa no Retro Casual que fica no cruzamento da Rosário com Rua do Mercado, e pedir o cozido feito pelo Chefe Santos. É dos deuses. Perto de duas horas, em frente a livraria Folha Seca (Ouvidor, 36) começa uma roda de samba comandada pela nova geração do enredo. E o melhor, de graça”
09 – Deixa uma mensagem para os leitores do blog.
Amigos, o futuro é aqui, cada vez mais perto, coração e idéias.
A internet é a face globalizada, mas a sinto cada vez mais pessoal.
Salve as individualidades!
2 comentários:
Ótima entrevista. Ótimo blog.
Saudações!
Parabéns pela excelente entrevista! sem duvidas é um grande compositor e conhecedor de botequins este é o grande Moa! um abraço do Paulista
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